sábado, 12 de junho de 2010

É dia dos namorados e me deparo com um surpreendente documentário: "Ônibus 174". Já assisti ao filme, um pouco mais romantizado. Peguei-me pensando em como a vida pode ser tão difícil para meia parcela da população. O que justifica a morte pelos policiais do temível Sequestrador Sando Rosa Nascimento? A vontade da sociedade? Não faço apologia a crimes, e isso inclui o assassinato do assassino. Será mesmo que o protagonista dessa tragédia desejava mesmo matar tais reféns? Pergunto-me, se ele era tão ruim e tão maldoso, por que simplesmente obrigou uma das reféns a fingir que estava morta? Disparou o tiro contra o chão. A relação entre sequestrador e sequestrados deveria ser um pouco mais fria, mas pelo que parece tais pessoas conseguiam conversar com o famoso menino de rua.
Testemunha do assassinato da mãe, do massacre da Candelária, de uma cela subalterna na cadeia, traumas? Quantos dos filhinhos de classe média de bairros ricos aguentariam sobreviver se um milésimo desses fatos chegasse aos seus lindos quartos decorados e com fotos de cantores? Intriga-me o fato de que ao final do documentário a polícia cala o fruto de um sistema construído com a ajuda de todos a pedido da própria platéia, que se encontrava no local para, mais uma vez, presenciar a morte do palhaço. Entretanto, dessa vez houve uma vítima, e por ironia do destino, praticamente vítima do próprio BOPE. A platéia presente desejava matar o sobrevivente de tantas injustiças, consentindo liberdade aos policiais autores do crime quando estes foram a júri popular.
Algum dos depoimentos do documentário justificou o ato da nossa fracassada polícia como um ato falho, entretanto passível de compreensão devido aos sentimentos que residiam nos corações daqueles seres humanos, afinal, acima de tudo são seres humanos como nós. Há um paradoxo brutal. Desde os primórdios da idade moderna lutamos por um mundo em que as decisões não sejam tomadas baseadas nas emocões. Os homens são falhos. O racionalismo existe, nós o criamos, não vivemos mais na época em que o julgamento tem por base a religião, não possuímos Tribunais do Santo Ofício.
Se o ódio, a raiva e a sede de vingança estavam presentes naqueles policiais, era de suma importância que Sandro obtivesse segurança maior para ser encaminhado ao presídio. Um médico não pode matar um paciente se tiver raiva dele por qualquer motivo, quais os artigos constitucionais que justificam um policial fazer o mesmo? A lei existe para que seja cumprida. Por vontade da população ou não, é inadmissível! Se cada vez que tivermos vontade de bater em alguém o fizermos, o que acontece? Delegacia, meu bem. Então por que aceitar essa brecha nos direitos humanos que temos hoje nesse país em que a política do pão e circo é cada vez mais eficiente? Um sistema opressor e cego. A invisibilidade de Sandro fez com que o próprio se tornasse protagonista de uma tragédia. Uma tragédia não para a sociedade, mas para a família das vítimas. O enterro de Geisa foi como a gravação de um filme, milhares de pessoas prestando condolências aos parentes. No caso do vilão, apenas sua mãe adotiva e o coveiro encontravam-se presentes.
Sinto dor pelo triste fim que vamos ter em breve, mas às vezes desejo que a humanidade seja extinta logo para que meus tataranetos não presenciem fatos piores que os atuais. Eu, que como toda jovem tenho sonhos de mudar o mundo e fazer o melhor que eu puder vejo-me impotente diante de magnatas opressores e corruptos. O que eu, uma pequena jovem com uma sede de ajudar, viver e fazer o bem, posso fazer para que a situação de alguém melhore nesse planeta? Eu busco a minha profissão como minha maior paixão para um bem maior do que o imaginável. É triste vivermos em um mundo tão individualista, pois compartilhar meus ideais com outro indivíduo me faz parecer tola. A minha vontade maior será atendida e eu poderei me ver daqui a alguns anos realizando o maior sonho da minha vida. A busca pela medicina me corrói a liberdade e muitas diversões, mas nada, NADA me dá tanta força para lutar do que presenciar essa desigualdade e lamentar o mundo em que vivo. A minha força triplica cada vez que vejo uma injustiça, tenho sede de me formar cada vez mais depressa, para ser capaz de ter uma palavra forte e atitudes guerreiras. Não me importo em lutar contra o mundo para seguir meus princípios, tive essa educação dentro da minha casa. Agradeço a minha linda bisavó Ana por ter me dado esse dom a solidariedade e a humildade. Eu sei que um dia eu poderei olhar pra tudo o que deixei de aproveitar e ser muito feliz por todas as pessoas que pude ajudar. Dedico esse post a Sandro Rosa Nascimento e a sua família, além de todos os que se encontram em situações semelhantes. Às vítimas dos monstros que criamos desejo força para lutar por um mundo melhor e para dar oportunidade de melhora de vida aos miseráveis e excluídos socialmente, pois só assim poderemos um dia diminuir a violência e evitar episódios como esse.

sábado, 19 de dezembro de 2009

.em preto e branco é mais legal.

Sábado tão cinza
A tempestade que chega é da cor dos meus dias escuros
Um sábado amarronzado, com cara de domingo à noite, o que fazer quando tais dias chegam e não se tem nada, além da sua própria companhia, um café quente e um computador velho?
Onde estão os bons livros para fazer jus à música de Djavan?
Quero a beleza de uma história interessante e louca que trará ânimo ao sábado nublado.
Não quero vampiros e nem bruxos e nem biografias, quero mais.
Quero a vida real estampada nas capas de um livro.
A vida de um ser tão comum quanto eu, falando sobre frustrações, ambições, desejos, sonhos, fracassos..
Quero uma história que fale sobre amigos, sobre filhos, irmãos, namorados.
Quero  uma história de loucuras incessantes, insanidade e memórias.

Na verdade, não .. quero apenas uma história.
Mas que me prenda a ponto de não haver mais tristeza alguma em mim após terminar de lê-la.
Livros tem o dom de nos levar a um mundo tão distante, capaz de aliviar dores internas.
Na verdade, ler é o remédio para a humanidade.
Não importa o que seja, leia !
Leia até as pessoas, decifre-as e faça uma história com elas.
Seja parte da história delas.
E no fim, deixe seu sábado colorido, ou não. Na verdade não importará muito, importará mesmo a maneira com que irá encarar a vida.
De certa forma acho que quero a minha própria história. =)